Fadiga pandêmica: o que é e como lidar com mais esta consequência da COVID-19

A pandemia da COVID-19 já se mostrou ser o evento mais desafiador da atualidade. Lidar com o que tem sido chamado de “fadiga pandêmica” pode ajudar a diminuir os impactos deste momento delicado.
Letícia é doutora em Psicologia, especialista em Psicologia Analítica Junguiana e instrutora de meditação.
Letícia é doutora em Psicologia, especialista em Psicologia Analítica Junguiana e instrutora de meditação.

Já estamos há mais de 1 ano vivendo a pandemia da COVID-19. Ao longo deste período, muitas pessoas vêm crescentemente apresentando alguns sinais e sintomas em comum, como dificuldades para dormir, um aperto constante no peito, uma melancolia que insiste em não ir embora, um medo do futuro que não passa, um aumento (ou até o surgimento) nas crises de ansiedade, dentre outros indícios de que está difícil lidar com tudo o que vem nos acontecendo. 

Essa sensação de esgotamento foi observada pela OMS e denominada como fadiga pandêmica. Como o nome já sugere, trata-se de diversas emoções, experiências e percepções relacionadas à COVID-19, que trazem ao indivíduo a sensação de estar “no limite”. São muitas incertezas, inseguranças, mudanças radicais no estilo de vida, inúmeros sofrimentos por diferentes motivos, e todo este pacote faz com que a fadiga pandêmica possa acometer qualquer um de nós. Até o momento, estima-se que mais de 60% da população mundial já apresente sinais de esgotamento devido à pandemia.  

Leia mais: Lidando com o Coronavirus

Diminuição nos cuidados 

A OMS alerta que um dos aspectos importantes relativos a este fenômeno é que, com o passar do tempo e com o aumento da sensação de esgotamento, um grande número de pessoas em vários países começa a adotar dois tipos de comportamentos:

  1. ignorar, ou diminuir os cuidados e as restrições recomendadas e/ou
  2. buscar menos informações a respeito do tema. 

Vale observar aqui que, quando uma situação de crise e risco se impõe, é natural que a maioria das pessoas responda adequadamente no início do processo, tomando as medidas de preservação e proteção necessárias. No entanto, se esta condição se estende por muito tempo, a tendência de uma parte da população é se desmotivar e até deixar de tomar as ações protetivas apropriadas. É como se elas se acostumassem à situação e deixassem de enxergá-la como um grande risco. Isto se refere à capacidade humana de se adaptar às mais adversas condições, o que, aparentemente, é uma boa característica. Em contextos ameaçadores, no entanto, tal adaptabilidade pode colocar a sobrevivência em xeque. 

Especificamente em relação à pandemia do coronavírus, o fato é que a junção dos dois tipos de comportamentos listados acima termina por gerar um ciclo bastante perigoso e até fatal: as possibilidades de infecções e alastramento do vírus aumentam, a situação volta a ficar fora de controle, as restrições e cuidados precisam ser reforçados, ou retomados (por exemplo, volta-se a falar em lockdown, mesmo depois de um período de reabertura), a sensação de insegurança volta a crescer, e, naturalmente, as dificuldades emocionais se intensificam ainda mais.      

O que fazer para lidar com a fadiga pandêmica

É bastante provável que esta “nova” realidade nos acompanhe por um bom tempo ainda, pois o caminho até que possamos circular à vontade pelo mundo novamente ainda é longo. Precisamos seguir nos cuidando e nos protegendo com responsabilidade. Preservar vidas continua sendo essencial.

Sim, está muito difícil e cada vez mais desafiador lidar com os efeitos da pandemia e de tão extensa quarentena. Mas, apesar de parecer excessivamente árduo, acredite, há uma boa variedade de coisas que podemos fazer e que irão nos auxiliar a dar conta desta adversidade. Veja abaixo algumas sugestões.

Saiba mais: Em tempos incertos, é comum ficarmos ansiosos. Aprenda a identificar os principais indícios e causas da espiral da ansiedade.

Comece aceitando o que está sentindo 

É possível que antes da pandemia você fosse uma pessoa mais expansiva, talvez até mais cheia de alegria, mas agora se vê diferente, quem sabe mais triste, mais melancólica, mais frágil. O melhor a fazer desde já é não esconder, ou mascarar, mas olhar isto de frente. O mundo inteiro mudou, o que era conhecido e seguro talvez não seja mais. É natural que você tenha mudado também, é natural que esteja angustiante. Não lute contra estes sentimentos, apenas aceite-os, sem se cobrar para que aja de determinada maneira, se possível. 

Acolha a si mesmo. Muito provavelmente, você está fazendo o melhor que pode com os recursos que tem. 

Busque ajuda

Após compreender e aceitar que as coisas podem estar difíceis, vá em busca de cuidar de si mesmo. Converse com as pessoas, fale sobre seus sentimentos. Apenas lembre-se, no entanto: seus amigos e familiares também estão esgotados. Pode ser que eles não consigam dar o suporte de que você precisa, uma vez que eles também estão necessitados. 

Se perceber que seus sintomas são frequentes e cada vez mais intensos, procure ajuda profissional. Existem ótimos profissionais e diversos grupos desenvolvendo excelentes trabalhos online, alguns até gratuitos. 

Medite

Como Menezes e Dell’Aglio identificaram em sua pesquisa, a prática constante da meditação traz inúmeros benefícios para o nosso estado emocional, nossas relações sociais e nossa conexão com o divino. Diversos estudos já reportaram importante redução nos sintomas de ansiedade, depressão e estresse em pessoas que meditam regularmente. Fisicamente também nos sentimos melhor, já que ao longo do dia carregamos conosco a sensação de relaxamento que experimentamos durante a prática.  

E eu te garanto: meditar é mais fácil do que parece. Procure por meditações guiadas. Elas são ótimos recursos para te auxiliar nesta prática. Aprecie sua paisagem interior e escute o que seu silêncio tem a lhe dizer. Você pode se surpreender!

Dica: Para começar já a sua rotina de meditação, veja aqui 5 dicas de posturas para meditar sentado.

Cuide do seu corpo

Uma rotina de exercícios e de autocuidados é essencial pra nos manter fortes para o que vier. Nosso sistema imune agradece a prática diária de atividades físicas, e é bastante possível se exercitar mesmo estando em casa. Aulas de Yoga, por exemplo, são excelentes para corpo e mente. Na internet, é possível encontrar uma enorme variedade de atividades gratuitas.
Se necessário, coloque um alarme para ajudar a se lembrar e manter o hábito. 

Leia mais: Cuidar do corpo também envolve uma boa qualidade do sono. Se você tem dificuldade para dormir, descubra aqui como cair no sono mais rápido.

Alimente-se bem

Não exagere no álcool, coma vegetais, frutas, consuma menos (ou zero) proteína animal, alimente-se de coisas saborosas e saudáveis. Além de nutrir o corpo, uma boa refeição é fonte de prazer. Permita-se este deleite.

Se tiver disposição, cozinhe para si mesmo e para outras pessoas. Mia Couto já dizia que “Cozinhar não é serviço… Cozinhar é um modo de amar os outros”.

Desfrute deste amor. 

Encontre pequenas alegrias em cada dia

Elas podem estar escondidas, mas, se souber procurar, você vai encontrar motivos para sorrir. Calibre o olhar, não é hora de mirar longe e esperar acontecimentos muito grandiosos. Observe e celebre o que está próximo, a micro distâncias. Uma flor que desabrochou, uma coincidência inesperada, a cor do céu no outono, o cheiro da chuva tocando a terra, receber uma mensagem de um amigo querido, mandar uma mensagem a um amigo distante. Perceba o que foi bom no seu dia, registre e dê destaque a isto.

Já se sabe que o exercício da gratidão diminui os níveis de cortisol no nosso organismo, e isso ajuda a reduzir o estresse. 

Faça algo por outra(s) pessoa(s)

Neste mundo tão autocentrado em que vivemos, buscar a felicidade parece significar fazer algo por nós mesmos. Mas que tolice… A verdadeira felicidade está em fazer o outro feliz. E já deu para perceber que nós só sairemos desta situação complexa em que a COVID-19 nos colocou se pensarmos coletivamente. 

Cada vez que você se perceber pensando demais em si mesmo, preocupado demais com o seu próprio bem-estar, se possível, tente reverter esse olhar para outra(s) pessoa(s). Talvez você se impressione consigo mesmo!

Lute pela vacina

Por enquanto, só ela pode nos devolver a vida fora do isolamento, o encontro sem medo com amigos e família, os abraços tão aguardados. Lute para que ela esteja disponível. Para você e para todos. Por você. Por todos.

Faça a sua lista

Aqui vai a última sugestão: Tente aumentar e personalizar esta lista. Procure identificar o que, na sua opinião, pode ajudar a diminuir os efeitos negativos deste momento tão delicado. E, se puder, compartilhe com o maior número de pessoas possível. Pode ser que faça bem a alguém.  

Leia mais: O que é o estresse?

Meditation. Free.
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