O que é o estresse?

O estresse não é um fenômeno único, mas sim uma resposta dinâmica e pessoal às mudanças complexas que nos desafiam ou ameaçam.
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O que é o estresse? Não é fácil definir o estresse. Pior ainda é tentar medi-lo. Considere a seguinte definição:

Estresse é a resposta negativa, física e psicológica,  a uma situação ameaçadora ou difícil.

O problema é que o estresse nem sempre é o resultado de uma situação negativa. Além disso, as pessoas nem sempre respondem negativamente a uma situação negativa, já que muitas vezes a pressão pode nos inspirar ou motivar. Para complicar ainda mais as coisas, a mesma situação estressante pode afligir completamente uma pessoa e não ter efeito nenhum sobre outra.

Embora a definição acima reconheça que o estresse se manifesta tanto física quanto psicologicamente, é de comum acordo que existem também aspectos comportamentais, sociais e culturais significativos para o estresse. Por fim, usamos a palavra ‘estresse’ para tratar da tensão em todas as escalas temporais, mas é justo dizer que sofrer de uma dor crônica ou doença por anos, por exemplo, é completamente diferente de sofrer um encontro assustador com a morte que começa e termina em um intervalo de dois minutos.

Tipos de estresse

Eustresse é o nome dado ao estresse benéfico, ou “estresse bom”, que nos inspira e motiva, ou que acompanha eventos positivos, ainda que perturbadores, como conseguir uma promoção ou mudar-se para uma casa nova.

Distresse é o nome dado a pressão que causa danos fisiológicos, psicológicos ou mentais, e é associado às emoções negativas. Exemplos de gatilhos são divorciar, perder o emprego ou ficar doente, situações que afetam significativamente nossos recursos internos.

Estresse agudo é caracterizado por sintomas de estresse intenso  por um tempo limitado, que aparece subitamente. Ele aparece em resposta a eventos inesperados e até mesmo ameaçadores, como uma discussão violenta ou um acidente de carro. O corpo responde bioquimicamente, entrando em um estado de ‘lutar ou correr’, liberando adrenalina para ajudar o corpo a sobreviver.

Estresse crônico é menos intenso, mas dura por mais tempo. Ele vem do acúmulo da preocupação e da ansiedade dos problemas diários da vida, como estresse no trabalho, problemas com o relacionamento e contas mensais. O estresse crônico pode ser ignorado ou considerado inevitável, mas seus efeitos a longo prazo no corpo podem ser significativos.

Leia mais: Ansiedade e estresse estão intimamente conectados. Saiba identificar os indícios e causas da espiral da ansiedade.

Percepção do estresse

Como indivíduos, todos nós temos diferentes percepções, valores, qualidades, predisposições, experiências e opiniões que fazem nossa percepção do estresse ser totalmente única. É por isso que o mesmo evento pode ser insuportável para uma pessoa e, para outra, meramente um desafio ou até mesmo excitante. Duas pessoas não necessariamente se estressam da mesma forma.

O estresse não se trata apenas do evento externo, mas da avaliação interna de cada pessoa sobre tal evento, assim como  a interação entre eles.

A resposta ao estresse

Em seu livro comumente citado, Stress without Distress, de 1974, o endocrinologista canadense Hans Selye propõe uma teoria que explica como o impacto do estresse depende basicamente de sua intensidade e duração. No modelo de Selye, o estresse é a resposta não específica do corpo aos estímulos positivos ou negativos, que podem ter resultados igualmente positivos ou negativos.

Selye identificou três estágios da resposta ao estresse:

  • Estágio 1: O estágio de alarme, ou “ligar ou correr” onde os recursos e defesas do corpo são ativados. Essa é uma resposta bioquímica (são produzidos hormônios) que instiga uma resposta fisiológica (coração acelerado, sudorese, respiração rápida) levando a uma resposta psicológica e cognitiva (medo e pensamentos acelerados).
  • Estágio 2: O estágio de resistência, onde o corpo recua e se adapta à resposta do estágio 1. Isso depende dos recursos físicos e psicológicos da pessoa e da magnitude do fator estressante. O corpo irá se adaptar se os recursos são maiores do que a demanda, mas resultará em desgaste quando os recursos se esgotarem e o estresse persistir.
  • Estágio 3: O estresse contínuo eventualmente leva o corpo ao estágio de exaustão. Os recursos estão completamente exauridos e acontece um colapso total. Felizmente, este estágio raramente é alcançado.

Tudo começa com o eixo HPA

O estresse é uma parte natural e inevitável de estar vivo. Nossa habilidade de responder rápido é uma parte de um sofisticado sistema bioquímico que evoluiu por milhares de anos para nos proteger do perigo. O eixo HPA (das glândulas hipotálamo-pituitária-adrenal) forma a parte fisiológica da resposta ao estresse.

A “glândula mestre”, ou hipotálamo, fica no cérebro, e é responsável por iniciar a resposta ao estresse. Ele envia uma mensagem química para estimular a glândula pituitária anterior, que então estimula a glândula adrenal a produzir hormônios do estresse, como o cortisol.

Os hormônios do estresse inundam o corpo e afetam tudo, desde o coração até os músculos. O sistema nervoso autônomo responde com uma variedade de sintomas chamados de resposta simpática. Todo o seu corpo se prepara de maneira rápida e involuntária para aumentar suas chances de sobrevivência à essa emergência. As pupilas se dilatam, os músculos se enrijecem, a transpiração aumenta. No entanto, quando o perigo passa, o sistema HPA saudável eventualmente volta a um estado de calmaria e equilíbrio.

Este processo evoluiu em resposta às ameaças físicas de curta duração. Mas, para as pessoas da modernidade, o estresse é algo mais prolongado e abstrato. Assistir a notícias desanimadoras na televisão não ameaça literalmente sua sobrevivência, mas bioquimicamente o corpo responde da mesma maneira como se sua vida estivesse em risco. Quando o estresse é constante, o eixo HPA se torna desregulado e os hormônios que evoluíram para nos manter seguros podem acabar nos deixando cronicamente doentes.

De acordo com os estágios de Selye, o estresse prolongado nos leva além da adaptação chegando até a exaustão, onde nossos recursos mentais e físicos se esgotam. Se manter em um estado psicologicamente alerta além do que é necessário para nossa sobrevivência pode trazer consequências graves. Em outras palavras, o estresse agudo se torna estresse crônico e o eustresse se torna distresse.

Os efeitos do estresse prolongado

No corpo físico

O cortisol, hormônio principal do estresse, pode deixar sua respiração mais rápida, aumentar a pressão arterial e contrair os vasos sanguíneos, agravando problemas respiratórios ou cardíacos já existentes.

Estresse crônico pode desregular o equilíbrio de açúcar no sangue e aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Também pode desregular a produção de ácido estomacal que, consequentemente, tem o potencial de causar refluxo, indigestão, diarréia, constipação e dores estomacais.

Músculos tensionados cronicamente podem eventualmente levar ao desalinhamento do corpo, dores de cabeças, dores musculares e aumento no risco de ferimentos.

Estresse crônico pode baixar os níveis de testosterona em homens, desregular o ciclo menstrual em mulheres e interferir na fertilidade e na libido dos dois gêneros.

O estresse ativa o sistema imunológico para o caso de a ameaça resultar em um ferimento ou infecção. Mas, de acordo com a pesquisa, o estímulo prolongado pode enfraquecer a resposta imunológica e minar as defesas do corpo contra patógenos, fazendo com que seja mais fácil a pessoa adoecer.

Uma reação prolongada ao estresse também torna difícil para o corpo relaxar completamente durante o sono restaurador, comprometendo ainda mais seu humor, resistência e imunidade.

Sobre o funcionamento cognitivo, emoções e comportamento

Os hormônios do estresse podem atrapalhar a memória, a concentração e o juízo do indivíduo. Preocupação constante ou pensamentos ansiosos podem distorcer nossas percepções, nos fazendo enxergar apenas as coisas negativas.

Nossos pensamentos influenciam naturalmente nossas emoções. Logo, preocupação e ansiedade crônicas podem levar ao desânimo, irritabilidade, solidão, depressão e sentimentos gerais de estar no limite ou sobrecarregado.

Nossa resposta individual aos fatores estressantes da vida podem variar desde comer demais ou de menos, padrões de sono irregulares, abuso de substâncias (por exemplo: café, álcool ou até mesmo açúcar), procrastinação, negligência no autocuidado, isolamento ou tiques (como roer as unhas).

Leia mais: O estresse é um dos fatores que causam dificuldade para dormir, mas não o único. Descubra aqui o que causa insônia.

Os sintomas do estresse geralmente aparecem em grupos e podem ser vistos tanto como causa, quanto como efeito. Por exemplo, quando estamos estressados, podemos acabar fazendo escolhas no nosso estilo de vida que atrapalham nossa capacidade de lidar com o próprio estresse. Da mesma forma, muitos problemas de saúde podem causar estresse, mas também são agravados pelo mesmo.

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